domingo, 11 de janeiro de 2015

Avaliação: Harley-Davidson Iron 883 numa bucólica viagem ao passado

Harley Davidson Iron 883 Carplace MOTO (11)
Dizem que quando crescemos continuamos as mesmas crianças, o que muda é o tamanho e o preço dos nossos brinquedos. Para utilizá-los, imaginamos o cenário e nos transportamos ou vamos a ele, seja praia, piscina ou montanhas. Bom, hoje estou dono de uma Harley-Davidson Iron 883 bege (Sand Cammo/Denim) modelo 2014 com exatos 4.696 km, linda. Como o dia é de sol e sem previsão de chuva, considero uma ida à São Francisco Xavier, uma pequena vila situada na Serra da Mantiqueira, cujo caminho é mais um dos belos playgrounds que o Estado de São Paulo oferece para passeios de moto.
Com o tanque cheio, pneus calibrados, check list ok, tudo funcionando, hodômetro parcial zerado, piloto equipado para o frio e, por precaução levando uma mochila com impermeável. Sim, na mochila, pois esta Harley tem apenas o banco do piloto e nada mais. Dou a partida com a chave no bolso (chave de presença) e pego a Avenida 23 de Maiona hora do almoço. Para facilitar a passagem entre os carros me posiciono para frente no banco, mas logo escorrego e percebo que, se eu fosse realmente o dono da moto, teria que passar no Fit Shop da Harley-Davidson para realizar os ajustes possíveis. Como não sou, logo me acostumo com a situação e vou em frente.
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Medindo 830 mm de largura, cerca de 100 mm a mais que uma CG, a Iron, considerando seu esterço como intermediário entre uma naked e uma trail, passa com facilidade entre os carros e em pouco tempo já estou acessando a Rodovia Ayrton Senna rumo a São José dos Campos. Com o motor já aquecido, resolvo parar para observar a marcha lenta, que agora oscila entre 870 e 1.030 rpm, e prossigo observando a rotação: a 80 km/h é de 2.500 rpm, a 100 km/h é de 3.200 rpm e a 120 km/h o conta-giros marca 3.800 rpm – sempre em quinta marcha. O comportamento da Iron 883 é impecável, tanto pelo ronco agradável como pela pouca vibração. A posição de pilotagem nos convida realmente a passear, mas agora noto que, além do banco, precisaria ajustar o guidão para meu tamanho.
Nas ultrapassagens e saídas de pedágios, a moto responde rápido. Isso graças ao bom torque de 6,7 kgfm a 3.750 rpm. A troca de marchas é suave e precisa, ainda que barulhenta. Já o ponto neutro dá trabalho: mesmo treinando bastante durante o percurso, tive mais erros que acertos. Neste trecho de pista dupla, curvas suaves e ótimo asfalto, fui praticamente o tempo todo a 120 km/h, o que para mim parece ser a velocidade ideal para a Iron. Pouco antes das 14h faço o primeiro abastecimento e medição: 108,2 km rodados com 6,85 litros, o que dá um consumo médio de 15,8 km/l.
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Logo após o posto, pego a saída para a Rodovia Tamoios (SP-99) e em poucos minutos entro em São José dos Campos, onde já começo a ver as placas indicativas de São Francisco Xavier e Monteiro Lobato. Aí foi só seguir as setas e em pouco tempo estava na SP-050, Rodovia Monteiro Lobato: agora sim, uma estrada sinuosa de mão dupla e com o asfalto em ótimas condições, tanto que decido mudar o destino para Santo Antonio do Pinhal, município considerado estância climática na região do Vale do Paraíba, para rodar e curtir mais.
Como a Iron possui limitadores de inclinação nas pedaleiras, decido aproveitar a largura total da minha pista, inclinando menos mas sem perder o pique, alternando entre a terceira e quarta marcha a uns 3.300 rpm. Puro prazer: a posição baixa de pilotagem e a velocidade moderada permite contornar as curvas com segurança e firmeza, e a brincadeira passa a ser não deixar raspar a pedaleira, o que consegui em 90% do percurso de 94 km até o destino, parando algumas vezes para apreciar a paisagem.
Harley Davidson Iron 883 Carplace MOTO (4)
A Iron tem origem na década de 1950 e, como um Porsche 911, veio sendo atualizada ao longo dos anos sem perder seu DNA. Com ângulo de inclinação de 30,5° e trail de 117 mm, caracterizando seu estilo “chopper”, ela possui chassi tubular de berço duplo com reforços em cada união, suspensão dianteira com garfos telescópicos (curso de 92 mm) e duplos amortecedores (41 mm de curso) na traseira, que condizem com o estilo da moto. Completam o belo visual o motor preto com detalhes na cor prata e cromados incluindo o duplo escapamento. As rodas com 13 raios em liga de alumínio na cor preta com detalhes em cinza são de aro 19″ na dianteira e 16″ na traseira.
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O motor que equipa esta HD é um dois cilindros Evolution V-Twin com 883 cm³ de cilindrada e potência não declarada pela fabricante, montado sobre coxins de borracha. A transmissão é de cinco marchas, com correia para transmissão à roda, formando um conjunto que prioriza torque e durabilidade.
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Apesar do estilo clássico, a Iron tem freios com ABS, trazendo disco simples de duplo pistão na dianteira e na traseira, capazes de parar a motocicleta de forma progressiva. O painel é minimalista, composto de uma base com velocímetro analógico e luzes indicadoras de farol alto, ponto neutro, baixa pressão de óleo, piscas, diagnóstico do motor, alerta de baixo nível de combustível, bateria fraca e sistema de segurança, tudo em LED. O velocímetro possui ainda um pequeno visor digital que, por meio de um botão, alterna as informações de hodômetro total, parcial A e B, relógio, indicador de marchas e rotações do motor.
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Os comandos da Iron estão bem posicionados e são de fácil acionamento. No lado direito ficam três botões que concentram corta-corrente, partida, seta direita e pisca alerta. No lado esquerdo também aparecem três botões, com as funções de lampejar e acender o farol alto, buzina e seta esquerda. Uma particularidade desta moto é a sua lanterna traseira dupla, mas embutida nas setas: isso é Harley-Davidson!
Quase às 16h, já em Santo Antônio do Pinhal, uma parada no posto para dois abastecimentos: moto e piloto. Nestes 94 km, com trechos de subida, o consumo médio apresentado ficou em 26 km/l. É provável que esta média tenha sido conseguida por ter mantido uma velocidade constante e também pela estrada vazia. Para o meu abastecimento, escolho a estação de trem Lefèvre, da estrada que liga Pindamonhangaba a Campos do Jordão, situada na entrada de Santo Antônio, onde está o mirante de Nossa Senhora Auxiliadora – um belo lugar para estar e lanchar.
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Por volta das 17h30, retorno ao playground para mais uma hora da mesma diversão da subida, agora com o farol ligado (que por sinal é mais que suficiente). Já em são José dos Campos, volto à realidade do transito intenso (o parque também tem fila para entrar nos brinquedos, não?) até mais um abastecimento na entrada da Carvalho Pinto: 102,7 km rodados com 5,53 litros de combustível e média de 18,6 km/l.
Na volta a São Paulo, mantenho uma média de 100 Km/h, raramente acionando o farol alto, e a sensação que tenho ao chegar, quase às 21h, no posto próximo de casa para o abastecimento final, é uma mistura de paz e alegria. Neste trecho de 110 km o consumo ficou em 25,6 km/l, e para os 415 km totais percorridos foram 20,4 km/l. O que concluo? A praia da Harley-Davidson Iron 883 não é trânsito e nem giro alto do motor, podendo compará-la com um traje “Casual Day”, que combina perfeitamente com seu estilo e proposta. Uma roupa de marca, claro, cuja etiqueta estampa um preço de R$ 34.100.
Texto e fotos: Eduardo Silveira

Ficha técnica – Harley-Davidson Iron 883

Motor: dois cilindros em V, 4 válvulas, 883 cm3, injeção eletrônica, refrigeração a ar; gasolinaPotência: Não declarada; Torque: 6,7 kgfm a 3.750 rpm; Transmissão: câmbio de cinco marchas, transmissão por corrente; Quadro: estrutura tubular de aço; Suspensão: garfo telescópico na dianteira (92 mm de curso) e biamortecida na traseira (54 mm de curso); Freios:disco duplo na dianteira e simples na traseira, com ABS; Rodas: aro 19″ com pneu 100/90 na dianteira e aro 16″ com pneu 150/80 na traseira; Peso: 260 kg (em ordem de marcha);Capacidades: tanque 12,5 litros; Dimensões: comprimento 2.255 mm, largura N/D, altura N/D, altura do assento 735 mm, entre-eixos 1.510 mm

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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Além de perigoso, 'empinão' pode fazer a moto quebrar e gera multa de R$ 1,9 mil


Ducati 1299 Panigale S
 
O ser humano é chegado em atitudes idiotas. Entre os motociclistas (ou seriam motoqueiros?) algumas modinhas bestas invadiram o mundo das duas rodas nacional, más atitudes na pilotagem que podem ter consequências bem ruins para quem pilota assim como para a motocicleta também.

Uma delas é empinar ou, o oposto, frear fortemente com o objetivo de “empinar ao contrário”, erguendo a roda traseira do chão, manobra conhecida por “RL”. Nos dois casos, os agentes de trânsito podem aplicar uma multa nada suave de R$ 1.915,40, fora a apreensão do veículo e suspensão do direito de dirigir. O texto do artigo 175 do Código de Trânsito Brasileiro trata isso como “utilizar-se de veículo para demonstrar ou exibir manobra perigosa, mediante arrancada brusca, derrapagem ou frenagem com deslizamento ou arrastamento de pneus”.

Uma empinada breve não causa danos graves ao motor da moto. Mas isso pode acontecer quando o percurso com a roda dianteira apontada para o céu é longo a ponto de o óleo do motor se concentrar em local onde o “pescador” não consiga mais sugar o lubrificante do cárter e mandá-lo às partes mais delicadas do motor. O que acontece? O óbvio: sem lubrificação adequada, o motor se desgasta mais rapidamente e, sem nenhuma lubrificação, ele quebra na hora.

Quanto ao “RL”, o problema não afeta tanto o motor mas sim a suspensão dianteira e a coluna de direção, principalmente seus rolamentos. O chassi, suspensão e freios de uma são feitos para suportar sem problemas a freadas fortes, buracos e outros episódios do uso normal. No entanto submeter esse conjunto a situações-limite com frequência cobra seu preço, e alto, pois os projetistas não prevêem resistência a tanto estresse.

Ter de trocar o conjunto de rolamentos da caixa de direção é apenas uma das consequências dessas frenagens estilo malabarista. Retentores das suspensão também vão para o espaço mais cedo, assim como o sistema de freios – disco, pastilhas ou tambor e sapatas. O quadro ou chassi também será afetado, perdendo resistência, o que, a longo prazo, resulta em trincas e rachaduras que o comprometem irremediavelmente.

Fazer "estouros"
Outra bobagem cometida por motociclistas é o “estouro”. Em túneis, ruas, avenidas e estradas, alguns se divertem provocando, através de uma ação muito simples (não vou ensinar…), uma forte explosão pelo escapamento. Barulho, gostemos ou não, faz parte da vida. Festas não poderiam deixar de ser ruidosas sob pena de perder totalmente a graça.

Um time entrando no estádio, fazendo um gol ou uma grande jogada, é algo que tem de ser obrigatoriamente acompanhado de ruídos – gritos, cantos, fogos de artifício –, assim como eventos como Carnaval, réveillon etc. Porém a satisfação de causar deliberadamente um forte ruído andando de moto pode assustar os outros motoristas e pedestres.

É uma espécie de sadismo sobre duas rodas. Felizmente, as motocicletas mais modernas, equipadas com injeção eletrônica e escapamentos com catalisador, anularam a possibilidade do condutor causar o tal “estouro”, mas se você é dono de um modelo mais antigo deve saber que essa prática, além de besta, não faz nada bem ao motor da motocicleta.

Resumidamente, o que causa o estouro pelo escapamento é uma porção de mistura ar e combustível não queimada dentro do cilindro que escorre para o tubo de escape e lá explode. Ou seja, o que tinha que ocorrer no lugar certo, gerando a energia que impulsiona a moto, acontece no lugar errado. Fora o desperdício de combustível e o pecado ambiental, essa explosão forte no lugar indevido provoca um estresse mecânico grande, e danos graves podem ser feitos à válvula de escape e sua respectiva mola e sede. A chance de entortar uma válvula de escape provocando o estouro é enorme e aí, meus amigos, o prejuízo é sempre grande.

Como vemos, atitudes circenses, sejam ela o estouro, a empinada ou o “RL”, podem parecer atraentes e sem nenhuma consequência, mas não são. Tanto do lado mecânico como no que diz respeito à lei, o melhor mesmo é deixá-las de lado. A habilidade no domínio da motocicleta é algo admirável. Os que se julgam acima da média nesse quesito devem direcionar esse talento para conduzir a motocicleta com segurança. Os que estão do lado oposto, os pouco talentosos, devem se limitar a treinar a condução segura e não tentar manobras que, no fundo, prejudicam o bolso e a saúde, tanto física como da moto.

*FOTO: Divulgação/Ducati